Onde você quer estar daqui a alguns anos? E os teus filhos, onde estarão? A resposta a essas duas perguntas passa, necessariamente pelas atitudes e ações que temos hoje.
Uma das principais ações da atualidade é o cuidado com a educação. Pais responsáveis se preocupam com os caminhos dos filhos, e quando se trata da escola a preocupação só aumenta. Não é por acaso que notícias relacionadas ao ensino ganham destaque no noticiário, sinal inequívoco de que dá audiência.
O Jornal Nacional da Rede Globo abriu uma série de reportagens sobre ensino em nosso País. Prometendo uma visão panorâmica das questões relacionadas ao que é ensinado em nossas escolas, fará excursões pelas regiões brasileiras, pinçando elementos colhidos aqui e acolá a partir de visitas às escolas.
É bom que os meios de comunicação coloquem os holofotes sobre a questão educacional. Cada vez mais ela precisa ser discutida e pensada se queremos um Brasil melhor e, principalmente, melhor para nossos filhos.
A questão é saber qual o foco das reportagens proposto pelo Jornal Nacional. O fenômeno educação é amplo, precisa de recortes temáticos e lucidez analítica. O que parece ser bom pode se revelar desastroso, se, ao invés de informar e esclarecer, tomar um pedacinho da realidade como se fosse a realidade toda.
Já na seleção do que vai ser mostrado na TV aparecem os riscos da arbitrariedade. Uma ou duas salas de aula mostradas cada noite, podem ser um flash, mas não é a cena toda. Uma frase recortada de uma entrevista longa, que é editada e colocada no ar, pode dar a impressão de que a professora entrevistada representa o que todos os professores pensam, quando isso está longe de ser verdade. Definitivamente, questões complexas, como a educação de nossos pequenos, exigem análises e debates complexos. Resuminhos, colocados por alguns minutos num telejornal, notório pela brevidade com que trata os assuntos, é um risco adicional para o ensino.
Mil coisas podem ser apresentadas, como por exemplo, a gestão da educação nos municípios, se as verbas recebidas para a inclusão estão sendo aplicadas, se os programas de capacitação de professores funcionam, se os alunos recebem e utilizam corretamente o material didático. Qual a qualidade do material didático, que educação sexual está sendo oferecida. Como o ensino de ética, meio ambiente, saúde, que fazem parte dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, estão sendo desenvolvidos. Poderia mostrar projetos inovadores e que efetivamente deram certo na alfabetização das crianças. Qual o orçamento do Ministério da Educação e Cultura e o destino desses recursos. Uma dica seria pesquisar quanto o Ministério e as instituições a ele subordinadas gastaram com viagens e diárias.
Bem que o Jornal Nacional poderia divulgar as ações positivas, como a edição e distribuição de livros para as bibliotecas. A coleção dos grandes pedagogos que as bibliotecas públicas receberam, merecia ser mencionada.
Mas, apesar dessas possibilidades, entre um milhão de tantas outras, fiquei curioso e quis saber quem era o consultor teórico, isto é, o “especialista especializado” em educação que fará os comentários nas reportagens. Trata-se do Senhor Gustavo Ioschpe.
Gustavo Ioschpe, nascido em 1977, portanto com apenas 36 anos, é formado em economia. Tem ainda graduação em Ciência Política e Administração Estratégica. Como se vê, com apenas trinta e seis anos ele gastou boa parte de sua vida estudando economia, política, e administração. Nada contra os economistas, os estudiosos da política ou os administradores. Mas economista entende muito de economia, administrador de administração.
Claro que sobre educação cada um se julga entendedor, eu mesmo me atrevo a pensar e dizer algumas coisas, mas assumir uma tarefa da envergadura do que propõe a Rede Globo já é algo mais delicado. O senhor Gustavo tem mestrado em economia internacional. Ele também estuda as relações entre a economia e a educação, mas seu foco são as análises estatísticas e da econometria sobre desenvolvimento econômico e educação, distribuição de renda relacionada ao desempenho educacional dos alunos.
Como o Senhor Gustavo Ioschpe é membro do Conselho de Administração da RBS afiliada da Rede Globo no Sul do País, ele já é homem da Globo antes de começar os tais programas do JN. Francamente, é um especialista em educação que vai comentar as reportagens, sendo sua formação principal economia. Podemos esperar alguns números, dados estatísticos, que muitas vezes servem para afirmar como verdadeiros discursos falaciosos.
Mesmo assim, isso vai ser interessante, o que é interessante dá audiência e é o que a Globo quer. Quanto aos estragos que fará na já combalida compreensão de educação que nosso País tem, é apenas mais um arranhão na sociedade que, distraidamente, irá assistir aos programas como se fossem a verdade sobre a educação brasileira.
A educação é séria demais para ser analisada num programete rápido e comentada por alguém com pouca experiência, creio até que nenhuma como professor das crianças, e cuja cabeça é mais número do que gente. É preciso cuidar melhor das escolas, pois elas constroem o futuro e, ao mesmo tempo, o futuro que queremos constrói as ações do tempo presente.
A iniciativa da Rede Globo, em colocar a temática educação numa série de reportagens, é boa. Mas nem sempre algo que parece bom é bom de fato. Uma festa pode ser interessante, mas a comida apesar do sabor agradável pode estar contaminada e a dor de barriga é inevitável. Cuidemos de assistir com cuidado, pois diz respeito ao futuro, e é no futuro que estaremos muito brevemente.