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Fora da questão; artigo do professor Ivanor Luiz Guarnieri

Há uma semana, quarta-feira, madrugada. Programa “Fala que eu te escuto”. As cenas mostradas eram horríveis. Jovens mal educados agredindo professoras. Uma delas ficou com os braços quebrados. Noutra cena, gangs de rua brigando. Uma menina-moça esfaqueou outra. Morte. A pergunta feita pelos apresentadores queria saber se a escola não consegue mais educar ou se é a família que não ensina a bom comportamento. Algumas pessoas entraram em contato com o programa e deram seu depoimento. Do ponto de vista dos que participaram todos entre todos disseram que é a família que está falhando na educação dos filhos.

O programa em apreço é interessante e chama a atenção por abordar temas atuais. Não fosse um bom programa nem me daria ao trabalho de assistir e comenteá-lo aqui. A TV presta bom serviço se coloca na roda de discussão assuntos que interessam a sociedade. Nada pode ser mais interessante do que a condição de vida e a educação de nossos jovens. Mas as duas questões propostas, colocando ou na família ou na escola a culpa pelo que aqueles jovens fizeram, pareceram deixar um vazio no assunto. Senão vejamos.

Imagine uma questão para ser respondida na qual você deve assinalar apenas uma das alternativas. Algo como:  J. H. S. (a sigla é fictícia, qualquer semelhança com nomes reais é mera coincidência. Pelo amor de Deus, não quero que me acusem de calúnia). Voltando a questão.

– J.H.S bateu na professora e matou uma colega que não queria fazer amor com ele. Assinale a alternativa correta indicando de quem é a culpa pela violência contra a professora e pelo assassinato.

a) (   ) da escola,

b) (   ) da família,

c)  (   ) do Filósofo René Descartes (1596-1650),

d) (   ) do inventor da faca,

e) (   ) do fabricante de facas,

d) (   ) J.H.S.

e) (   ) nenhuma das alternativas.

A resposta correta depende do lugar onde a pergunta é feita. Ser a pergunta for respondida na Rússia ou nos Estados Unidos, que são os países que mais prendem bandidos e assemelhados, é provável que seja assinalada a alternativa “d”. Se no Brasil, pelo medo em ofender suscetibilidades, quem sabe “e”, pois é provável que se discuta primeiro os problemas sociais, a desigualdade econômica, a possível falta de amamentação materna nos bebês, a incidência dos raios solares que afetam o raciocínio de alguns, e por isso cometam deslizes. Ainda no Brasil, talvez seja buscada explicação na suposta pobreza de J.H.S. e se explique então que suas ações são culpa da pobreza. Mas como ele tem um perfil de classe média alta, já que os fatos ocorreram em uma escola relativamente cara, pode ser dito que sendo de família abastada, os pais se preocupavam demais em ganhar dinheiro e não deram o carinho que o filho precisava, razão pela qual cresceu com desvios comportamentais.

Que maravilha de País. O que não é uma boa raciocinada para encontrar atenuantes, desculpas e explicações que impeçam de punir as pobres vítimas dos desmazelos sociais. Os explicadores de plantão acham justificativa para tudo, até para assassinos contumazes, chamando-os de pobres vítimas do sistema social excludente. Estupradores são vítimas do apelo ao sexo, exposto na TV diuturnamente. Os comerciantes de drogas (traficante é nome feio, vamos usar um mais palatável: comerciante, que tal?), pobres vítimas da falta de emprego, se veem obrigadas a aceitar trabalho pesado como este.

Ivanor-ArtigosAgora surgiu mais um colóquio flácido para acalentar bovino. O governo está sendo criticado, pois nunca antes nesse país tantas pessoas foram presas. A população carcerária no Brasil aumentou muito nos últimos dois anos. Como se o governo, a polícia, e o poder judiciário fossem culpados pelos crimes cometidos por aqueles que precisam ser presos pela polícia, julgados pelos tribunais e mantidos em penitenciárias por conta de seus atos.

Certo que não se deve sair por aí prendendo todo mundo, só se deve fazer isso em conformidade com a lei. Do mesmo modo que inocentes jamais podem ser presos. Mas discutir ações criminosas de jovens que batem e matam insinuando que a culpa é da escola ou da família, apenas, é um equívoco que incentiva, pela impunidade, novas ações criminosas.




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