quinta-feira, 19 setembro, 2024
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Os Intelectualóides agora tem voz e vez

A história que conto, aqui, é aquela que todos já viram ou vivenciaram. Quando algum assunto é colocado em pauta, sempre alguns sabem o que dizer, outros fingem saber, e outros sem saber falam o que não sabem.

Os que sabem o que dizer são minoria e, às vezes, nem estão presentes.

Os que fingem saber, fazem olhar, caras e gestos de intelectualóide. Intelectualóide é um tipo humano, recém-criado em laboratórios universitários e escolas de ensino médio. É novo, mas, paradoxalmente, sempre existiu. Para esconder seu despreparo, do qual nem desconfia, faz de tudo para aparecer e para mostrar sabença. Nem sempre o intelectualóide abre a boca, mas quando resolve dizer alguma coisa, aí Jesus, que discurso, que palavras melífluas, que encanto. Um simples comentário sobre o voo da mosca ganha nuanças de acrobacias circenses. A desenvoltura com que os assuntos mais variados emergem do discurso intelectualóide causa torpor. Dali a pouco, a triste pergunta: “o que tem isso a ver com o assunto? ” Essa pergunta simples faz desmoronar o que foi dito, ruindo os quadros lógicos do discurso proferido por esse profissional da pose e da petulância.

Há um terceiro tipo, o daquelas pessoas que não sabem nada, mas falam mesmo sem saber. Notórios em afirmar coisas como “não vi, não conheço, mas não gostei”, semeiam discurso éticos. Raramente de elogio, tais discursos recriminam o comportamento alheio; apontam rispidamente os erros dos outros, e, com tal atitude, pensam estar demonstrando que são melhores e mais corretos do que todos os demais.

Nenhuma pessoa é só intelectualóide, nem só sabedor das coisas, e, muito menos, ignorante de tudo. Cada um tem, em maior ou menor medida, um pouco dos três. O problema é dosar as coisas.

As perguntas tendem a acalmar o cérebro, desde que se dê atenção a elas. Desse modo, bem podemos nos livrar dos vícios discursivos: intelectualóide, ignorante, agressivo. Eis algumas sugestões. Sobre o assunto que estiver sendo apresentado, pergunte-se:

1- Que sei a respeito dele?

2- Supondo que sei algo, vale a pena externar aos demais?

3- Se externar o que penso, em que isso contribuir para melhorar o ambiente e o foco da discussão?

4- Que tenho eu com isso que está sendo dito?

Feitas essas perguntas, talvez seja oportuno lembrar a sugestão dos mais velhos. Há uma expressão, de estilo gauchesco, que diz: “Não te meta!”.

De modo mais irônico, Roland Barthes lembra uma frase fatal: Não coce onde não pinica.

Muitos incômodos nas relações entre as pessoas podem ser evitados se atentarmos para essas questões.

Agora, um problema ainda mais grave.

Vivemos na dita democracia. Nesse sistema, dada a liberdade de expressão concedida às pessoas, ouvimos discursos sobre infinita variedade de assuntos. Dadas as posturas intelectualóide, cada vez mais presentes, como construir uma sociedade melhor com esses cidadãos que se veem como donos da verdade sobre aquilo que mal conhecem? Basta um detalhe que parece desagradar e lá vem o turbilhão de asneiras vociferantes contra o assunto (ou pior, contra pessoas públicas) objeto da discussão.

Em algum momento da vida brasileira parece que perdemos a postura. Xingamentos em sites de informação, feitos por pseudo leitores poluem as ideias em debate. São pseudo leitores: os que não leem a reportagem, apenas correm os olhos no título e já saem a escrever sandices; leem a reportagem, mas enxergam pouca coisa do que está escrito, pois só tem olhos para as próprias ideias pré-concebidas e querem ver, a todo custo, o que nem sempre está dito.

Ivanor-ArtigosNum tal quadro, de provocação e ataques pessoais, a democracia fenece. O desejo de melhorar o país, estado, ou município, se vê emparedado pela arrogância.

Como as pessoas que leem, e sabem de alguma coisa, tendem a ser as mesmas pessoas que tem boa educação e polidez, o barulho dos mal-educados as assusta, e elas se calam. Todos saem perdendo.

Essas características, bem brasileiras do tempo atual, explicam um pouco de nossas deficiências políticas, do precário ensino e do estudo quase nenhum. Afinal, porque um intelectualóide se daria ao trabalho que querer aprender se ele pensa que já sabe o suficiente de quase tudo?




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