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Professores e professores; artigo do professor Ivanor Guarnieri

Tem aquela história do paciente que foi ao médico, estava realmente com problemas. Depois dos exames, de duas consultas e de muito ser apalpado e auscultado veio a receita. Não eram muitos remédios, mas relativamente caros e amargos. Havia também uma dieta a ser seguida rigorosamente.

desmotivados[dropcap]D[/dropcap]epois do ‘obrigado doutor’ de praxe foi a farmácia. Uma mudançazinha aqui, outro remédio similar dali e chegou a sua casa disposto a livrar-se dos problemas de saúde. No primeiro comprimido reclamou do gosto. A colher do remédio líquido, bebido a primeira vez, mostrou-se marrento. Um dia depois esqueceu os horários dos remédios pendurados na porta da geladeira, e a folha ficou ali pendurada como mera figura decorativa. A dieta nem foi iniciada, pois aí já seria demais depois daqueles remédios de gosto ruim.

Conversando com amigos do bar queixou-se que os médicos não sabiam nada, só queriam cobrar a consulta, nada resolviam. Um monte de remédios caros e as dores continuavam as mesmas. Só não tinha a coragem e a hombridade de reconhecer sua parte na história. Que pagou uma consulta e foi três vezes ao consultório, fora as ligações para o celular do médico, mas isso já são ninharias dessa história.

 A educação também está doente e o professor tem sido acusado de culpa. De fato, há professores e professores, mas os alunos insistem em jogar fora a receita dos estudos e não seguir a dieta do comportamento adequado. Salas de aula que mais parecem o lugar privilegiado dos debochadores, com jovenzinhos dedicados ao exercício da gozação, competindo entre si para ver quem aparece mais na categoria de bagunceiro do ano, para levar o troféu abacaxi da reprovação.

As crianças estão cada vez mais ansiosas para sair da sala de aula, empinar a pipa e festejar na rua mais um término de dia no qual conseguiram se livrar da professora. Ufa, pais que mal conseguem conter os filhos na sala de estar, para trocar ideias com eles, pensam que a professora que tem 45 iguais ao seu pupilo em sala de aula deveria educar melhor.

Mas os profissionais da educação, vistos cada vez mais como cada vez menos importantes, têm recebido críticas imerecidas. Já nem se vai falar do salário, lugar comum das queixas, mas do próprio tratamento que é dispensado aos que educam nossos filhos. Salas de aula que parecem depósito de crianças pululam no País inteiro. Pais que se queixam das férias e feriados, quando têm que suportar os filhos em casa, sem fazer nada. Se os professores fizerem greve então, o mundo entra em ebulição.

O sonho dos pais é ver os filhos ‘vencendo na vida’. É preciso acompanhar os filhos à escola, depois da escola e em casa. Explico: saber da tarefa dada para o filho, como anda seu desempenho e comportamento, cobrar dele um mínimo de dedicação aos estudos. Depois que o tempo passou, não consegue passar em concurso, em vestibular em coisa alguma não adianta vir com a sentença rasteira de culpar a escola e os professores. Boa parte destes se esforçam para ensinar ciência, matemática, literatura, história, gramática, geografia e uma série de outros conteúdos que para serem aprendidos dependem de esforço. Sem essa de cobrar aulas gostosas, alegres, festivas. Quem quer se divertir vá a outro lugar. Só para a escola dos futuros fracassados se pode exigir tal tipo de coisa. Os recursos didáticos e tecnológicos podem sim tornar a aula menos cansativa, mas jamais uma aula será como ir ao parque de diversões ou competir com as brincadeiras de rua na preferência e no gosto das crianças.

Além do ensino, dificílimo em razão do mau comportamento de alguns estudantes, os professores têm sido chamados a trabalhar como secretários, ajudantes de quermesse em festas juninas, a dar uma forcinha no trabalho burocrático de nossas instituições de ensino e algumas vezes desrespeitado com professor pelos próprios colegas e chefias. Quando questionam as respostas vem em forma de ponta pé. O grosseirão que entra na sala de aula para falar com a professora de seu filho parece uma espécie que está se reproduzindo em alta velocidade. Claro que há pais e alunos conscientes e educados, porém estão escondidos no barulho em meio ao barulho dos demais.

É até compreensível que uma sociedade que não consome cultura e conhecimento elaborado, dê mais valor ao trabalho braçal do que aos que se dedicam aos estudos. A prova disso é o baixo nível de entendimento de questões medianamente complexas pela maioria da população, a falta de leitura, o consumo irrisório de livros e, até mesmo, os livros que são jogados no lixo em algumas instituições que se dizem de ensino. Mas ao menos tratar os professores, senão como professores, com a dignidade de seres humanos que todos merecem.

Ivanor-ArtigosDe saúde entendem os médicos. De leis entendem os advogados. De educação formal todos parecem entender alguma coisa, principalmente na hora de cobrar dos professores a educação para os filhos que eles próprios não têm.

Moro num País tropical, abençoado por Deus. Que beleza.

Com uma situação dessas como reclamar de certos tipos políticos eleitos? Nem vou comentar, só resta dizer: Ok Tiririca, você venceu!

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