Todos viram ou ficaram sabendo do Conclave. Homens sisudos reunidos para a escolha do novo Papa. Discussões daqui e dali, inspiração do Espírito Santo, eis que surge Francisco. Argentino, mas descendente de europeus.
Em meio a notícias desabonadoras, Bento XVI renuncia. Os sofrimentos físicos de uma saúde precária obrigaram a tal gesto. Mas não se deixou de ver como a imprensa momentaneamente mudou de foco, dando destaque primeiro a renúncia, depois a eleição do novo Papa. Não se pode dizer que foi estratégico, mas que esses acontecimentos se mostraram úteis para preservar a imagem da Igreja também é inegável. Entra um Papa de sorriso cativante, aparentemente simples, escolhe um nome que representa desapego às coisas materiais. De fato, São Francisco, o Santo, é querido de todos e a dispensa de algumas regalias por parte do novo pontífice parece seguir esse caminho: o da pobreza, mas nem tanto, já que o ritual do cargo exige certa postura.
É engano pensar, contudo, que a escolha de um homem mude a estrutura da Igreja de uma vez. O aparelho burocrático é pesado demais para ser movido por uma só pessoa. Além disso, onde houver o ser humano há interesses.
O oceano de católicos espalhados pelo mundo recebem as notícias do Vaticano como algo distante, indiferente, importante, sublime, e com tantas outras atitudes conforme o coração de cada um. Os não católicos também, e alguns desses até com uma dose de crítica, mais preocupados às vezes em falar mal da religião alheia do que viver a sua própria. Paciência, o mundo é feito dessas atitudes também.
Está longe o tempo em que os sacerdotes católicos usavam batina como roupas do dia a dia celebravam a missa em latim, e os fieis não podiam tocar na Hóstia Sagrada, que era depositada diretamente na boca pelas mãos consagradas do Padre. Na igreja durante a missa não era permitido conversar. Local sagrado onde o fiel deveria expressar o mais profundo respeito e ficar em oração.
Corpo Místico de Cristo, a Igreja é também Povo de Deus em Marcha. Isso significa dizer que é histórica e historicamente sofre e sente as mudanças no e do mundo. Se fez necessário o Concílio Vaticano Segundo, de 1962 a 1965, quando a Igreja Católica procurou atualizar-se com o mundo que se havia transformado muito. E continua a modificar-se em ritmo acelerado como é público e notório.
Em meio a tantas mudanças a gritaria para que a Igreja se modernize é enorme. Discurso de surdos que exigem dela o que ela não é: apressada. Sob o patrocínio da liberação sexual, da pílula, dos métodos abortivos, da utilização de embriões para testes científicos, e de uma infinidade de possibilidades trazidas por pesquisas da ciência, há quem peça que a Igreja “libere geral”.
Até mesmo alguns católicos mostram indignação quando são aconselhados e lembrados que sexo é destinado à procriação, não ao mero prazer egoísta. Para aqueles que veem a missa como um programa de final de semana embaralhado em meio a outros da programação dominical, nem sempre é fácil entender as razões da Igreja.
Mesmo reconhecendo o aspecto transitório da história, e, portanto, da necessária renovação para que a mensagem do Evangelho chegue de fato aos homens, é justamente pela obediência ao Evangelho que não se podem cometer equívocos. A Vida está acima das discussões e um erro não pode justificar o outro.
Apontar os erros dos membros da Igreja para daí argumentar a favor de outros erros pouco ajuda. O fim do celibato pode ser bem vindo. Mas isso não quer dizer carreira aberta para os casados terem seu meio de vida. A evangelização tem outro sentido independente do estado civil do celebrante.
‘A Igreja é muito rica, deveria dividir sua riqueza com os pobres’. Quem nunca ouviu esta ideia atire-se do precipício. É um argumento forte, mas que esconde que a pobreza das pessoas se deve a um estado social injusto, e não porque as Igrejas têm posses. Se fosse dada a eles toda a riqueza das Igrejas (não só da Católica) em pouco tempo estariam pobres de novo devido à exploração a que são submetidos. É a injustiça social que precisa ser combatida.
De sorte que estando no mundo a Igreja precisa enfrentar graves questões e inúmeros desafios. Renovar é preciso. Preciso, pois é necessário fazê-lo com precisão. E preciso, pois é indispensável fazê-lo. O sorriso, a atitude e a postura do novo Papa parecem dar sinais promissores de que novos ventos começam, como brisa leve, com calma e prudência, mas novos. O tempo dirá.
[tabs]
[tab title=”Rondônia Em Pauta”]Professor Ivanor Luiz Guarnieri[/tab]
[/tabs]
[Print-me]