Anuário de Segurança Pública revela explosão de casos de violência sexual no país, com destaque negativo para Rondônia; mulheres, crianças e adolescentes são as principais vítimas.
Mulheres, crianças e adolescentes estão entre as maiores vítimas da grave crise de segurança pública que afeta o Brasil. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado nesta quinta-feira (25), o país registrou em 2024 o maior número de estupros desde o início da série histórica, em 2011: foram 87.545 ocorrências reportadas às polícias.
O relatório revela um cenário particularmente preocupante em Rondônia, que concentra três municípios entre os cinco com maior taxa de estupros e estupros de vulneráveis no país. Ariquemes (122,5 casos por 100 mil habitantes), Vilhena (108,7) e Porto Velho (108,6) figuram no topo do ranking, atrás apenas de Boa Vista (RR) e Sorriso (MT).
Os dados refletem a situação alarmante vivida em municípios rondonienses, como Vilhena, que nos últimos anos tem visto um aumento na violência sexual, sobretudo contra meninas e adolescentes. Segundo o estudo, 88% das vítimas de estupro no Brasil em 2024 eram mulheres, e 33% tinham entre 10 e 13 anos de idade.
Além disso, a violência costuma acontecer dentro do próprio ambiente familiar: 45,5% dos estupradores são parentes da vítima, e 20,3% são parceiros ou ex-companheiros. Mulheres negras continuam sendo as mais atingidas: mais da metade das vítimas de estupro em 2024 pertencem a esse grupo.
O Fórum de Segurança Pública, responsável pela publicação, chama atenção para a subnotificação. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que apenas 8,5% dos casos de violência sexual são registrados pelas autoridades, o que significa que o número real de estupros pode ser mais de dez vezes maior que o oficial.
“Muitos casos de violência sexual — especialmente os que envolvem crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade — permanecem invisíveis diante da sociedade e da Justiça”, aponta o Anuário.
Casos de feminicídio e stalking também aumentam
A violência contra a mulher não se limita aos estupros. Os dados mostram que, em 2024, 3.870 mulheres foram vítimas de tentativa de feminicídio, um aumento de 19% em relação ao ano anterior. Já os feminicídios consumados somaram 1.492 casos, 0,7% a mais do que em 2023.
Os agressores são, na maioria dos casos, companheiros ou ex-companheiros das vítimas. O levantamento revela que quase dois terços das mulheres assassinadas eram negras, e 97% dos autores dos crimes eram homens.
Outro dado que chama atenção é o crescimento dos crimes de stalking — perseguição física ou virtual. Foram 95.026 registros em 2024, um aumento de 18% em relação ao ano anterior.
A presença de cidades como Vilhena entre os municípios com maior incidência desses crimes expõe a fragilidade das políticas públicas de proteção e o desafio das autoridades locais e estaduais em conter o avanço da violência de gênero em Rondônia.
Da redação do Rondônia em Pauta


