Quando alguém tem sucesso é chamado de bem-sucedido ou vitorioso. Poderia ser chamado de sucessor, mas este substantivo está ligado ao verbo suceder e não ao imaginário verbo sucessar, que talvez não exista ou é pouco conhecido. Vamos seguir a sugestão de um certo Alberto Silva (http://www.achando.info/sucessar), para quem “sucessar” tem o sentido de obter sucesso.
Brincadeiras linguísticas à parte, ter sucesso tem um duplo sentido: sucesso para si mesmo ou sucesso para os outros verem. O primeiro caso, é o mais agradável, pois nele nos sentimos satisfeitos conosco mesmos. No segundo caso, o sucesso pode trazer dois efeitos: satisfação dos que nos amam em ver nossos progressos, ou insatisfação. As migalhas conquistadas no dia-a-dia não deveriam ser exibidas, mas o ser humano não suporta viver sem mostrar-se. Não são todas as pessosas, mas boa parte prefere ter seus feitos divulgados ao invés de manter o silêncio educado sobre o que conquista. Isso pode produzir rancor nos fracassados por se sentirem ameaçados com as vitórias alheias.
Além de ser de dois tipos, para si e para se exibir, o sucesso é também de duas ordens: interna e externa. Por ordem interna entendo as conquistas que enriquecem o espírito da pessoa. Aprender um novo idioma, entender teorias da ciência, saber ler partitura musical que, finalmente, se conseguiu executar, é sinal de sucesso interno. O sucesso externo é aquele que todos nós sabemos: o acúmulo de bens ao nosso redor, colocados em nosso nome e dos quais podemos dizer: “é meu”, para que todos saibam.
Tentar conciliar o sucesso no aprendizado escolar com o sucesso no acúmulo de bens é uma tarefa arriscada e prazerosa. Já se disse que quem estuda não tem tempo para ganhar dinheiro. Mas se observarmos o mundo veremos que não há uma resposta capaz de ensinar como chegar ao sucesso. Há, contudo, boas dicas.
Benjamin Franklin aconselha a não perder tempo, pois, segundo ele, “tempo é dinheiro”. Sugere também que devemos manter rigorosamente em dia nossas anotações de gastos. Isso faz sentido, pois anotando cada pequeno valor gasto observaremos que, às vezes, jogamos dinheiro fora com bobagens. Quem quiser saber mais leia o capítulo II de “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, de Max Weber. Nesse livro se encontra transcrita a carta de Benjamin Franklin com os conselhos para um jovem tornar-se rico na medida que o tempo passa. Isso no que diz respeito ao sucesso financeiro, exterior.
Sobre o sucesso nas coisas do espírito, da inteligência, Tomás de Aquino sugere que não nos envolvamos em ditos mundanos. Assuntos que não nos enriquecem e com os quais não temos ligação. Diz ainda que devemos cuidar da oração, desejar preencher a memória com o conhecimento, não permitir liberalidades com estranhos e, claro, devemos ficar estudando, como ele diz: ir adquirindo a sabedoria. Isso pode ser encontrado em uma carta desse santo da Igreja, escrita a certo frei João, chamada de “Sobre o modo de estudar”.
Mas, sobre o sucesso, tanto do ponto de vista do ‘interior da pessoa’ quando do acúmulo de bens, poucas coisas me chamaram mais a atenção do que os ensinamentos de Durkheim e de Bourdieu. Em síntese, somos o que pensamos, conforme ensina Germano de Novais em livro de mesmo título, e pensamos conforme aquilo que a sociedade moldou em nós. Nesse sentido, faz toda diferença para o bebê nascer em uma família de recursos financeiros e de boa leitura ou numa família cujos membros não vão além de trabalhar o dia todo apenas para conseguirem se manter vivos. Como nossa mente se alimenta de ideias, e com elas decidimos o que fazer da vida, quanto mais rica de ideia tiver sido a comunidade da qual fazemos parte, maior a chance de sucesso. Por outro lado, ser criado num ambiente de preconceitos e de explicações fantasiosas sobre o mundo tende a prender a pessoa ao mesmo ambiente de fracasso em que vive. Nisso reside o valora da escola, desde que ela não reproduza apenas os defeitos da própria sociedade na qual se insere.
Ter sucesso depende de impulso interior e ambiente propício. Portanto nem só do indivíduo nem só da sociedade, mas de acasos felizes entre pessoa e comunidade, pois é na comunidade que aprendemos a ser o que somos.