Gostaria de apresentar uma face da cidade de Vilhena que a maioria das pessoas, estudiosos e até pesquisadores desconhecem.
[dropcap]V[/dropcap]ilhena foi, por vários momentos, cenário da produção intelectual de grandes cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo.
Nos próximos artigos estarei apresentando alguns dos grandes pesquisadores que andaram por essas bandas.
Nesta oportunidade vou comentar a atuação do maior antropólogo do século XX. Claude Lévi – Straus. Cientista social que se imortalizou após escrever a obra “Os Tristes Trópicos”. O território onde hoje se localiza a cidade de Vilhena, foi parte do cenário percorrido pelo grande antropólogo francês.
Promovo a abertura desse artigo fazendo uma afirmativa um tanto comum a esse cientista moderno, Claude Lévi-Strauss foi o mais importante antropólogo na história da Antropologia Social.
Formado em Direito e Filosofia, estudante apaixonado por música, aos 35 anos de idade veio para São Paulo, quando compôs a missão francesa ao lado de Ferdnand Braudel, Jean Maugué, Pierre Monbeig, Paul Arbousse-Batiste e sua esposa Dina Dreyfus Lévi – Straus.
Na USP Straus lecionou sociologia, porém seu grande objetivo e desejo era a pesquisa de campo.
O interior do Brasil e os povos indígenas ofereciam a condição mágica do fantástico, incomum e surreal. O Brasil da primeira metade do século XX vivia uma condição de gigante exótico e desconhecido, pesquisar suas terras interioranas era uma experiência árdua sedutora e ao mesmo tempo inédita.
O jovem antropólogo e sua equipe mergulharam em um universo esquecido e complicado, região que havia sido percorrida pelo sertanista e marechal do Exército Brasileiro Cândido Rondon 25 anos antes.
Rondon foi acompanhado pelo etnólogo Edgard Roquette Pinto, que se tornaria mais tarde o “pai da radiodifusão do Brasil”.
Este outro grande brasileiro, Roquette Pinto, que também esteve onde hoje se localiza a cidade de Vilhena, será, brevemente, foco de mais um artigo desse humilde escriba.
Foi o trabalho pioneiro do etnólogo Roquette Pinto que chamou a atenção do estudioso francês, motivando-o ao universo interiorano do Brasil.
A Serra do Norte, localizada na Chapada dos Pareci e os rios Juruena e Ji- Paraná eram a grande meta da expedição que contou entre seus membros com sua esposa que também era antropóloga.
Nas margens do rio Juruena, Lévi-straus viu sua esposa contrair uma severa conjuntivite, fato que obrigou o seu retorno. Ao chegar no posto telegráfico de Vilhena, Luis de Castro Faria, responsável por todos os registros, fez um minucioso estudo sobre as cerâmicas e adornos indígenas, produzindo um farto material para pesquisas e estudos posteriores.
As experiências resultaram em uma obra decantada em todo o mundo, a relação entre o pesquisador e os três reinos, o animal, mineral e vegetal é exposta de forma singular, as experiências com os povos indígenas surgem expondo uma sensibilidade que encanta.
Os Tupi-kawahiw, Bororo, Nambiquara passaram a existir em um outro plano, pois se eternizaram em função da obra ter ocupado tão grande espaço no mundo acadêmico e cientifico.
O livro relata as viagens do antropólogo de forma amarga, pois o mesmo detesta viagens e relatos, no entanto, seus relatos resgatam a grandiosidade das aventuras.
Gostaria de convidar a comunidade de Vilhena, em especial professores e comunidade acadêmica, para iniciarmos um movimento cultural onde se ergam estátuas em homenagem aos homens gigantes que desenvolveram parte de suas valorosas obras nessa terra. Refiro-me a Claude Lévi-Straus, Edgard Roquette Pinto, Teodore Roosevelt e Candido Mariano da Silva Rondon.
Assim teríamos mais um espaço de cultura, inteligência e saber nessa cidade que nasceu para liderar em todas as frentes de batalha.